Clube das Pás tem como tema do Carnaval 2017 “A Festa do Boi Voador de Maurício de Nassau”

Clube das Pás tem como tema do Carnaval 2017 “A Festa do Boi Voador de Maurício de Nassau”

Desfile da agremiação centenária na Passarela do Frevo será no dia 28/02 e contará com 12 alas. Clube, que comemora 129 anos, contratou o carnavalesco José Hilário, campeão por 8 anos consecutivos pela Escola Gigante do Samba

 

 

O Clube Carnavalesco Misto das Pás, que neste ano está de volta ao Grupo Especial na categoria Clubes de Frevo, terá como tema do seu Carnaval “A Festa do Boi Voador de Maurício de Nassau”, em alusão aos 380 anos da chegada de Maurício de Nassau em terras pernambucanas. De acordo com José Hilário, novo carnavalesco da entidade, o tema é baseado em um episódio ocorrido na antiga cidade Maurícia, na época do Brasil Holandês. A história é narrada por frei Manuel Calado no seu “O Valeroso Lucideno” (1648).

                              

Uma equipe de costureiras e artesãos vem trabalhando todos os dias, sob a coordenação de Hilário, para confeccionar fantasias e adereços para diretores, sócios, frequentadores e convidados da entidade que participarão do desfile na Passarela do frevo, no dia 28 de fevereiro, às 1h30, na Av. Dantas Barreto. “O objetivo é levar para a avenida fantasias deslumbrantes, inspiradas nos holandeses que fizeram de Pernambuco um Brasil Holandês no século XVII”, revela o carnavalesco.

Ao todo, são quatrocentas e vinte e duas pessoas divididas nas 12 alas, intituladas como: Ala das Bandeiras, Ala de Época, Ala das Sinhazinhas, Ala dos Sinhozinhos, Ala dos Camponeses, Ala da Multiculturalidade, Ala dos Capoeiristas, Ala do Bumba meu Boi, Ala dos Pierrots, Ala do Frevo, Ala da Velha Guarda e Ala da Harmonia.

A confecção de chapéus, sapatos e sapatilhas e adereços de mão e de pescoço é tocada a várias mãos por um grupo de artesãos especializados em Carnaval. Para montar essa confecção, o Clube das Pás adquiriu modernas máquinas de costura overlock industrial e centenas de itens que vão desde mantas e cartonados com glitter até tecidos dos mais diversos tipos. Muitas indumentárias foram adquiridas em lojas especializadas do Rio de Janeiro. José Hilário viajou recentemente ao Rio para conhecer novidades nos barracões das escolas e trazer tecidos e trajes especiais da cidade para composição das roupas, pois não consegue no mercado nordestino.

O resultado de todo o trabalho vem sendo visto por ele diariamente com a finalização de cada peça e com o cuidado com os detalhes. Cada jornada de trabalho da equipe é marcada pelo bom humor. “Aqui estamos fazendo o que mais gostamos e ainda por cima para o clube que tanto amamos”, afirma a chefe da costura e sócia do clube, Sônia Paiva.

História do tema “A Festa do Boi Voador de Maurício de Nassau”

 

O administrador da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, Conde João Maurício de Nassau, foi o responsável pela construção de duas pontes sobre o Rio Capibaribe. A primeira unia o Recife à cidade Maurícia, na altura da atual Ponte Maurício de Nassau e a segunda, tinha o seu início no Palácio da Boa Vista e se estendia até o continente.

O pedreiro português Manuel Costa foi o contratado para a construção da primeira ponte e ergueu um pilar, com o objetivo de estudar a força das correntezas. Em 1941, a obra foi licitada e o judeu Balthasar da Fonseca foi o vencedor, estimando um prazo de dois anos para a conclusão do trabalho. No ano seguinte, em 1642, já haviam sido concluídos quinze pilares, a cabeceira de pedra do lado da cidade Maurícia e parte de madeira correspondente pronta para ser assentada, já estando postas várias vigas de um pilar para o outro. Por dificuldades na execução dos trabalhos no trecho mais profundo do rio, as obras foram suspensas. Devido a paralisação, uma censura por escrito do Conselho dos XIX que, em carta datada de Amsterdã em 24 de outubro de 1643, indagava em tom irônico sobre a interrupção do trabalho. As criticas também vieram da população, quando afirmavam que era mais fácil um boi voar do que a ponte ser terminada.

O conde, então, resolveu tirar recursos do seu próprio bolso para a continuação da obra. Para o restante da ponte, foram empregadas estacas de madeira. Em 1644, o serviço estava concluído. A estrutura era feita de duas cabeceiras em pedra e quinze pilares do mesmo material, completada por madeira. Segundo relatos de frei Manuel Calado, foram esculpidas numa extremidade as armas do Príncipe de Orange e as da Casa de Nassau e, na outra, foi gravada em pedra uma inscrição.

No dia da inauguração da obra, Nassau, com o objetivo de reunir o maior número de pessoas pagando pedágio na ponte, anunciou que um boi manso iria voar. Ele mandou abater e esfolar um boi e enchê-lo de pele de erva seca. Outro boi manso, vivo, foi emprestado ao conde para ser usado na estreia da ponte. O boi, vivo, foi colocado no alto da galeria, sendo visto pelo público. Neste momento, o conde fechou o boi em um aposento, de onde tiraram o outro couro de boi cheio de palha e o fizeram voar por umas cordas. Muitas pessoas passaram de uma parte para outra da ponte que, naquela tarde, rendeu mil e oitocentos florins.

 

José Hilário

 

O novo carnavalesco do Clube das Pás, José Hilário, tem mais de trinta anos de carreira e passou oito sendo responsável pelas vitórias consecutivas da Escola Gigante do Samba. Além da Gigante, o carnavalesco já realizou trabalhos para a Unidos do Comércio – que hoje não existe mais, a Pitombeira dos 4 Cantos, Unidos da Boa Vista, Bloco Esperança, Batutas de Água Fria, Bole Bole e muitos outros.

 

História – Clube Carnavalesco Misto das Pás – 129 anos (Desde 1888)

A história do Clube das Pás – o mais antigo de Pernambuco e um dos mais antigos do País – remonta à sua fundação no dia 19 de março de 1888, dois meses antes da Abolição da Escravatura no Brasil. O Recife fervia de alegria no Carnaval, enquanto um navio cargueiro atracado no Porto do Recife precisava ser abastecido de carvão, às pressas, para seguir viagem. Como não tinha trabalhador interessado naquela tarefa em plena folia, uma empresa encarregada do abastecimento do cargueiro, ofereceu pagamento dobrado aos estivadores. Daí, o comerciante português Antônio Rodrigues reuniu um grupo de homens dispostos a deixar a folia de lado e tratar de fazer o trabalho por uma remuneração maior.

Depois do serviço concluído e com muito dinheiro no bolso, o grupo de foliões, formado por Francisco Ricardo Borges, Manoel Ricardo Borges, João da Cruz Ferreira e João dos Santos, botou as pás de carvão nas costas e foi comemorar no Clube dos Caiadores. Enquanto brincavam o Carnaval, eles tiveram a ideia de fundar um clube carnavalesco. Começaram a discutir os nomes: Clube das Pás de Carvão, Clube das Douradinhas e Anjos da Boa Vista. No final, foi escolhido Bloco das Pás de Carvão.

Nos primeiros anos, a agremiação funcionou na Boa Vista. Depois, para erguer a sede do clube, o grupo de foliões comprou na Rua das Hortas, por seis mil cruzeiros, um terreno de propriedade do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória do Recife, Conceição de Olinda e Sagrado Coração de Jesus de Igarassu. Até que, muito tempo depois, a Associação Carnavalesca de Pernambuco comprou um terreno localizado na Rua Odorico Mendes, em Campo Grande, e o doou ao Clube das Pás. Meses depois, a senhora Maria do Carmo, que era sócia das Pás, arcou com as despesas de legalização do terreno junto à Prefeitura do Recife. Naquela época, na Rua Odorico Mendes, só havia casas muito simples. Assim, foi erguida uma palhoça, até ser construída uma sede maior em alvenaria. Depois de duas grandes reformas, o espaço ganhou um primeiro andar e recebeu o nome de Universidade do Frevo Reitor Josabat Emiliano, em homenagem a um de seus ex-presidentes, falecido em agosto de 2016, aos 98 anos.

Alguns clubes carnavalescos criados na mesma época do Clube das Pás eram oriundos de corporações de operários urbanos e impregnados de elementos presentes nas procissões religiosas, que foram proibidos pelas autoridades eclesiásticas. Alguns dos elementos transplantados se encontravam em cordões de lanceiros, mascarados, diabos, balizas, bobos, morcegos e damas de frente. No final do século XIX e início do XX, surgiram no Recife, além do Clube das Pás, os clubes de Carnaval Vassourinhas (1889), Lenhadores (1889), Toureiros de Santo Antônio (1914), Pão Duro (1916), Pavão Misterioso (1919), entre outros.

O Misto do nome das Pás é porque nesta agremiação podiam brincar homens e mulheres. O clube, que representa o mais tradicional espaço de gafieira de Pernambuco, possui o estandarte mais antigo, datado no início do século XX, possivelmente nos idos de 1910. O responsável pelo desenho foi Manoel de Matos, onde estavam evidenciadas folhas de acanto e outros elementos barrocos, o monograma do Clube, franjas e pingentes dourados, duas máscaras e uma boneca fabricada em porcelana francesa, trazida pelo antigo porta-estandarte, o alfaiate Manuel das Chagas. A confecção, que foi em veludo, acolchoado de algodão, forrado com cetim e bordado com fios de ouro, ficou a cargo das monjas beneditinas do Convento do Monte de Olinda.

O atual estandarte das Pás foi confeccionado por Maria do Monte, uma antiga aluna e bordadeira do mesmo convento de Olinda, em 1980. O desenho tem a figura de um anjo, representada por uma boneca trazida de Portugal. O estandarte traz, ainda, os dizeres “Amor e Ordem”, bordados sobre uma esfera azul que simboliza o globo terrestre. O estandarte pesa cerca de 60 Kg e é conduzido durante o desfile na avenida por três porta-estandartes, que se revezam durante a apresentação na segunda-feira de Carnaval. Em julho de 2007, a Prefeitura do Recife patrocinou a ida de doze integrantes do Clube das Pás para duas apresentações do seu estandarte no Rio de Janeiro, uma em Niterói e outra na Quadra da Mangueira.

O Clube das Pás tem entre seus dirigentes uma personagem que faz parte da história do carnaval pernambucano. A vice-presidente Josefa Ribeiro da Silva, a Marly das Pás, figura no livro “Sem elas não haveria Carnaval”, de autoria da pedagoga e produtora cultural Claudilene Silva e da historiadora Ester Monteiro. Lançado em 2011 pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, o livro traz depoimentos dessa carnavalesca de 50 anos que faz parte da agremiação há 35. “Aqui tenho minhas amizades, tenho um bocado de ‘filhos’. No Dia das Mães, ganho presentes de todo mundo. Isso é ter carinho. É melhor do que em certas famílias. Aqui já arrumei meu abrigo de velha”, revela ela, sempre sorridente. Há três décadas e meia, Marly está envolvida com os preparativos do Carnaval das Pás.

Os bailes da agremiação mantêm a tradição mais que secular de começar com a execução de três frevos. Afinal, o clube nasceu durante o Carnaval. Depois é que vêm os ritmos mais dançantes, com destaque para as músicas latinas e os boleros. À meia-noite, um breve intervalo para a tradicional valsa, quando os frequentadores costumam festejar seus aniversários. Depois, o baile continua até às 4h da manhã.

 

Texto e imagem enviados por ABBC Comunicação.